Alta de homicídios e violência sexual expõe avanço do crime organizado no Alto Paranaíba

Criminalidade em alta: homicídios e estupros de vulneráveis preocupam moradores do Alto Paranaíba

junho 18, 2025

As maiores cidades da região mineira do Alto Paranaíba enfrentam um crescimento preocupante da violência em 2024, com destaque para os índices de homicídios e crimes sexuais, especialmente os casos de estupro de vulnerável. O levantamento, feito a partir de dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e do IBGE, mostra que municípios como Patos de Minas, Patrocínio e Araxá registram taxas acima da média estadual nas duas categorias de crime.

O cenário é agravado pela combinação de migração intensa de trabalhadores, atraídos pelas oportunidades no agronegócio e na mineração, e o avanço de organizações criminosas transnacionais, que disputam território com grupos locais.

Crescimento da violência

Segundo o levantamento, os casos de estupro de vulnerável representaram 17,5% dos crimes violentos no Alto Paranaíba — mais que o dobro da média estadual, que é de 8,2%. Já os homicídios tiveram uma participação de 8,7% nos crimes violentos da região, também acima da média mineira de 6,8%.

Patos de Minas, com mais de 159 mil habitantes, é o município com pior desempenho em relação a homicídios, com uma taxa de 15,7 assassinatos por 100 mil habitantes, contra a média estadual de 13,4.

Disputa de facções e tráfico de drogas

De acordo com o coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de Estado, a região vive hoje uma fase de transição no crime organizado. “O que se observa é a chegada de uma organização criminosa transnacional em um ambiente antes dominado por um tráfico fragmentado. A estratégia dessa facção é matar para dominar o território”, afirma o coronel.

A disputa entre traficantes tem alimentado o aumento de homicídios, sobretudo nas periferias de Patos de Minas e Patrocínio, que sofrem com falta de infraestrutura, policiamento insuficiente e crescimento desordenado da população, resultado da migração em busca de trabalho.

Perfil dos crimes

Nos três principais municípios da região, a taxa de crimes violentos é de 116,9 por 100 mil habitantes, com 10,2 vítimas de homicídio por 100 mil. A maioria dos assassinatos aconteceu dentro de residências (40,5%) ou em vias públicas (37,8%).

O uso de armas de fogo aparece em mais da metade dos homicídios (51,4%), seguido por armas brancas (37,8%). As principais motivações foram brigas e atritos pessoais (16,2%), envolvimento com drogas (10,8%) e motivos passionais (10,8%).

Curiosamente, em 36,8% dos casos, as vítimas não tinham qualquer relação com o autor, enquanto em outros casos, o criminoso era amigo ou conhecido (26,3%), cônjuge ou companheiro (15,8%) ou até mesmo avô/avó (5,3%).

Áreas mais afetadas

Entre os bairros com maior número de registros de crimes violentos estão o Cristo Redentor e a Nova Floresta, em Patos de Minas, e os bairros Serra Negra e Marciano Brandão, em Patrocínio.

Além dos homicídios e dos estupros, os crimes mais recorrentes na região incluem roubos (39,8%), tentativas de homicídio (15,7%) e tentativas de roubo (6,7%).

Ações do Estado

A Sejusp afirma monitorar diariamente os indicadores de criminalidade nos 853 municípios mineiros e destaca iniciativas como o método IGESP (Integração da Gestão em Segurança Pública) e a atuação de Patrulhas de Prevenção a Homicídios, além de reforçar o papel da Agência Central de Inteligência (ACI) no combate ao crime organizado.

A secretaria também aposta em ações regionais com foco nas chamadas “zonas quentes”, áreas mapeadas com maior incidência de crimes, com o apoio da Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público e Poder Judiciário.

Por enquanto, o desafio segue grande: conter o avanço da criminalidade enquanto se busca melhorar as condições de vida nas periferias e fortalecer o aparato de segurança na região.