O muro do Hospital Municipal Odilon Behrens, um dos mais tradicionais de Belo Horizonte, amanheceu pichado nesta sexta-feira (31) com mensagens inusitadas vindas de traficantes da Pedreira Prado Lopes (PPL), na Região Noroeste da capital.
Nas frases, os autores — que se identificam como integrantes do grupo do “Beco do Fi” — tentam se desvincular de facções criminosas. Em uma das pichações, lia-se:
“Nós do Beco não tem nada contra facção. Somos neutros.”
Em outra, mais extensa, os criminosos afirmaram:
“Nois do Beco do Fi respeitamos quem é faccionado po(...) somos de nenhuma facção, somos Fi.”
A escrita com erros de português e o tom informal chamaram a atenção de moradores e funcionários do hospital. As pichações foram feitas em um dos muros que dá acesso à Avenida Presidente Carlos Luz, uma das principais vias próximas à comunidade.
💥 Reação após prisão de líder do tráfico
O ato ocorre dias após a transferência de Rafael Michel Bibiano, o “Espaguete”, apontado como chefe do tráfico da Pedreira Prado Lopes, para um presídio federal de segurança máxima em Campo Grande (MS).
Segundo a Itatiaia, que revelou o caso com exclusividade, Bibiano é considerado faccionado ao Comando Vermelho (CV) e foi “batizado” na organização em junho de 2022, sob o número 17622.
A pichação pode ter sido uma resposta à repercussão da notícia, em uma tentativa dos comparsas de negar vínculos formais com a facção carioca, embora mantenham relações de respeito e alianças pontuais — como indicam as mensagens deixadas no muro.
🚔 Transferência e isolamento em presídio federal
A transferência de “Espaguete” foi determinada pelo juiz Luiz Augusto Yamasaki, da 5ª Vara Federal Corregedora da Penitenciária Federal de Campo Grande, e tem prazo inicial de dois anos.
O presídio abriga criminosos de alta periculosidade, como Fernandinho Beira-Mar, Marcola e Marcinho VP. No local, o regime é de isolamento quase total, com 22 horas diárias em cela individual e apenas duas horas de banho de sol.
Antes da remoção, Bibiano passou pelo presídio de Muriaé (Zona da Mata) — unidade com histórico de abrigar membros do CV — e pela PPP de Ribeirão das Neves, na Grande BH.
🔫 Disputa na Pedreira Prado Lopes
A Pedreira Prado Lopes, uma das comunidades mais antigas e violentas de Belo Horizonte, vive uma disputa interna de poder entre dois grupos: o “Beco do Fi”, ligado a Espaguete, e o “Malokinha”, outra quadrilha que busca o controle do tráfico na região.
A rivalidade tem provocado diversos confrontos e mortes recentes. O episódio mais marcante ocorreu em 6 de outubro, quando Richard Bibiano, o “Índio”, irmão de Espaguete, foi executado em um posto de combustíveis na Avenida Tereza Cristina, no bairro Padre Eustáquio.
Desde então, a Polícia Civil intensificou o monitoramento na área, e a Prefeitura de BH reforçou medidas de segurança nos entornos do Odilon Behrens, que frequentemente se vê em meio a episódios ligados à criminalidade da região.
🧱 “Somos Fi”
Apesar da tentativa de se declararem “neutros”, investigadores da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) afirmam que o “Beco do Fi” atua como uma célula independente do tráfico, mas mantém relações comerciais com o CV — o que explicaria a transferência do líder ao sistema federal.
As pichações, segundo analistas de segurança pública, têm duplo objetivo:
- Mostrar força e identidade local (“somos Fi”), e
- Evitar retaliações de outras facções que disputam o território.
A Prefeitura de Belo Horizonte informou que a limpeza do muro foi providenciada e que o caso será investigado pela Polícia Civil, com apoio da Guarda Municipal.
Enquanto isso, moradores da região relatam temor de novos confrontos após o envio do líder ao presídio federal.
“Aqui é tenso. Cada vez que mexem com um chefe, a gente teme represália”, contou uma moradora da Pedreira, que preferiu não se identificar.
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