A recente criação da Fundação IBGE+, uma entidade pública de direito privado, está no centro de uma crise interna no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Servidores do instituto expressam descontentamento e preocupações sobre a falta de diálogo na elaboração do projeto, que tem sido apelidado de “IBGE paralelo”. A insatisfação culminou em convocação de atos públicos para discutir as implicações dessa nova estrutura e os desafios enfrentados pela gestão do presidente Marcio Pochmann.
Controvérsias sobre a Fundação IBGE+
Os críticos da Fundação IBGE+ afirmam que a gestão de Pochmann não considerou as contribuições do corpo técnico na elaboração do projeto. A nova fundação, estabelecida em julho, visa captar recursos para pesquisas e pode firmar parcerias com entidades públicas e privadas, o que levanta preocupações sobre a possível privatização de funções do IBGE. Bruno Perez, diretor da Assibge (associação sindical dos servidores), destacou que a criação da fundação pode abrir espaço para contratações sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), alterando a estrutura de poder no IBGE e gerando novos cargos de livre nomeação.
Além da fundação, a gestão de Pochmann promoveu mudanças no regime de trabalho e a transferência de funcionários para um prédio de difícil acesso, o que intensificou a tensão entre os servidores. A ex-presidente do IBGE, Wasmália Bivar, manifestou que a criação da IBGE+ ocorreu sem avaliação adequada de seus riscos e impactos.
Pochmann Responde às Críticas
Em resposta às reclamações, Pochmann emitiu uma nota enfatizando a importância da Fundação IBGE+ em um contexto de restrições orçamentárias e ressaltou que o projeto recebeu apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O presidente do IBGE argumentou que a nova estrutura permitirá a captação de recursos, ajudando o instituto a cumprir suas funções essenciais. Segundo Pochmann, foram realizadas “frequentes reuniões democráticas” com o sindicato desde o início de sua gestão, embora a Assibge tenha declarado que teve que recorrer a cartório para obter informações sobre a fundação, que só foi oficialmente divulgada em setembro.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação também se manifestou, afirmando que a fundação está alinhada com a Lei de Inovação, e não é necessário um credenciamento formal para reconhecimento como instituição de ciência e tecnologia. Contudo, muitos servidores expressam ceticismo sobre a real intenção por trás da criação da IBGE+, questionando a transparência das decisões tomadas.
Insatisfação entre os Servidores
A desconfiança em relação à gestão de Pochmann foi reforçada por cartas abertas assinadas por coordenadores e gerentes das diretorias de Pesquisas e Geociências do IBGE, que reclamam da falta de comunicação e de um processo decisório claro. Essas cartas pedem a melhoria do ambiente institucional e a promoção de um diálogo mais efetivo entre a direção e os servidores.
As mudanças geraram um clima de ansiedade entre os funcionários, que sentem que a atual gestão não está considerando adequadamente suas preocupações. A insatisfação é palpável, com o receio de que as decisões atuais possam comprometer a integridade e a autonomia do IBGE como uma instituição essencial para a formulação de políticas públicas no Brasil.
Impacto no Mercado e Próximos Passos
A crise interna no IBGE também teve reflexos no mercado financeiro, contribuindo para a aversão ao risco. O dólar subiu 1,78%, fechando a R$ 5,5209, enquanto o Ibovespa caiu 1,55%. Com protestos programados, a situação continua a evoluir, e muitos esperam que a gestão de Pochmann reavalie suas abordagens para evitar um colapso maior na relação entre a direção e os servidores.
A criação da Fundação IBGE+ e as mudanças estruturais propostas colocam em risco a estabilidade do IBGE, que é fundamental para a coleta e análise de dados estatísticos no Brasil. Enquanto isso, os servidores exigem maior clareza e participação nas decisões que afetam diretamente seu trabalho e a relevância do instituto no cenário nacional.
