A exportação de pescados brasileiros para os Estados Unidos está suspensa desde a última quinta-feira (10), um dia após o governo do presidente Donald Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros do setor. A decisão afeta diretamente empresas brasileiras e ameaça o escoamento de cerca de 1.500 toneladas de peixes e frutos-do-mar, atualmente retidas em contêineres em portos do país, principalmente na Bahia, Ceará e Pernambuco.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), as empresas exportadoras vivem um impasse quanto aos preços finais que os produtos terão ao desembarcar nos EUA nas próximas semanas. O transporte marítimo entre Brasil e Estados Unidos leva, em média, três semanas — prazo em que a nova tarifa começará a valer, encarecendo os produtos brasileiros em solo americano.
“Estamos diante de uma crise imediata. Os compradores norte-americanos estão suspendendo pedidos, temendo custos que podem inviabilizar negócios. Há risco de quebra de contratos e grandes prejuízos”, declarou o presidente da Abipesca, Eduardo Lobo.
Impacto no mercado e nas exportações brasileiras
O mercado de pescado brasileiro movimenta cifras relevantes no comércio exterior. Em 2023, o Brasil exportou aproximadamente US$ 280 milhões em pescados, incluindo peixes frescos, congelados e frutos-do-mar, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os Estados Unidos figuravam entre os principais destinos, atrás apenas da China, União Europeia e alguns países da América Latina.
A taxa de 50% anunciada pelo governo Trump foi justificada pela Casa Branca como parte de medidas protecionistas para conter o déficit comercial e “proteger produtores americanos”, especialmente do setor pesqueiro, que pressiona por mais barreiras à entrada de produtos estrangeiros.
Empresas brasileiras temem não apenas o cancelamento de contratos atuais, mas também a perda de mercado de longo prazo para concorrentes de países como Vietnã, Índia e Indonésia, que não sofreram aumento tarifário semelhante.
Prejuízo iminente e risco para empregos
O estoque parado nos portos brasileiros inclui principalmente camarão, lagosta, tilápia e outras espécies de alto valor agregado. Muitas dessas mercadorias têm prazo de validade limitado, elevando o risco de perdas milionárias.
“Cada dia parado aumenta custos com armazenagem refrigerada e ameaça a qualidade dos produtos. Podemos ter perdas que impactem toda a cadeia produtiva, inclusive empregos nas regiões Norte e Nordeste, onde a pesca e a aquicultura têm forte peso econômico e social”, alertou Lobo, da Abipesca.
Governo busca diálogo
O governo brasileiro ainda não anunciou medidas concretas para reverter a tarifa ou para compensar os exportadores. O Ministério das Relações Exteriores informou, em nota, que está em contato com autoridades norte-americanas para tentar negociar a exclusão dos pescados brasileiros da lista de produtos tarifados.
Enquanto isso, empresários do setor clamam por apoio governamental e medidas emergenciais para evitar prejuízos irreversíveis, sobretudo às pequenas e médias indústrias, responsáveis por parte significativa das exportações de pescado.
A suspensão das exportações ocorre em um momento delicado, quando o setor tentava se recuperar dos impactos da pandemia e expandir mercados internacionais. O impasse comercial poderá afetar também o saldo da balança comercial brasileira em 2025.
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