Não sei se é apenas minha impressão, minha sensibilidade escondida atrás de uma fase austera, e ao mesmo tempo desiludida com tanta coisa e tanta gente. Ou se é isto mesmo: os tempos parecem difíceis. Como li em algum lugar há algum tempo, “são tempos difíceis para os sonhadores”. E já tantos desistiram de sonhar, me parece. E outros insistem, mas sofrem, querem desistir, mas insistem. E ainda outros parecem sonhar e realizar, mas me parecem tão distantes da maioria. Quase deuses no Olimpo.
Isso vem de uns anos pra cá, acho que lá por 2018. Ou talvez venha de antes, e que o fim do mundo foi em 2012 como no calendário maia seja, de certa forma, verdade. O fim de uma era. O fim de um mundo que existia.
Nas redes sociais, vejo tanta gente desanimada ou irada. Brigam e se digladiam por política, arte, opiniões pessoais, é um país dividido e belicoso o Brasil de hoje. Não por acaso, o Brasil é o campeão de ansiedade entre os países, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Então, é necessário que descontem sua ansiedade. E uma das melhores maneiras com que fazem isso, os brasileiros, descontar sua ansiedade, sua raiva, até seu sentimento de perdição, são os memes.
Não pode haver um lugar no mundo em que existem memes melhores que no Brasil. E não pode existir um lugar no mundo em que as pessoas não se unam tanto como nos comentários e curtidas de um bom meme, e eles estão cada vez melhores. Da dor, nasce a arte. A arte imita a vida. O meme é uma arte, ao menos no Brasil. Não é vergonha ficar enviando memes, rindo sozinho de memes, rir de “memes de quinta série”. Ao contrário. Precisamos disso, cada vez mais.
Não que isto deva nos afastar da realidade ou de enfrentar nossos problemas, mas às vezes é exatamente disso que precisamos, apenas fugir para os memes.
Pena que nas Olimpíadas não há a categoria “memes”. Nem esportes para caramelos, a raça mais brasileira do mundo e que dominou os memes. Estaríamos em primeiro lugar do quadro de medalhas. Estamos distantes disso. Mas as Olimpíadas nos rendem muitos memes. E algumas medalhas. Rebeca Andrade, Bia Souza. A predominância em 2024, largamente, é das mulheres do Brasil no pódio. Mas voltando a falar de memes, vou encerrar com um sobre os homens que têm deixado a desejar (conforme os memes) nas Olimpíadas de Paris pelo Brasil: foi só a seleção masculina de vôlei, já eliminada, assistir à seleção feminina de vôlei, que vinha arrasando, e perdemos para os Estados Unidos. É claro que esse meme (com imagens e vídeos, que os memes estão cada vez mais requintados) revoltou alguns homens e até mulheres, “que bobagem”.
A verdade é que até os memes dividem os brasileiros: uns riem, outros dão lição de moral, outros reclamam e ameaçam colocar na Justiça. No fim, a maioria se diverte. Memes são críticas sociais, são a evolução das charges. E são patrimônio do Brasil. Daí sua importância, sua salvação, sua essencialidade.
