Empatia: a missão mais difícil da vida

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Empatia é uma palavra que tem sido muito utilizada por aí. Um termo “da moda”. Mas você sabe o que é empatia? Basicamente, é saber se colocar no lugar do outro. Desdobramentos: compreender as outras pessoas com suas idiossincrasias, histórias de vida e ideologias, “calçar suas sandálias”, tentar se pôr no lugar delas, ainda que não concorde com elas.

Discordar é da vida, mas respeitar e ser empático precisa ser um esforço diário. Não é natural para a grande maioria da humanidade ter empatia. Temos nossa natureza humana – há várias teorias sobre ela, fico com Thomas Hobbes que declara que “o homem é o lobo do homem”. Somos competitivos e naturalmente tendemos ao egoísmo. É claro que temos muitas qualidades, todos nós, mas, via de regra, nosso instinto é pensar somente em nós mesmos e da nossa perspectiva. Muitos de nos temos dificuldades para mudar de opinião – se já temos uma bem arraigada – e facilidade para julgar outros.

E é bem difícil mesmo. Colocar-se no lugar de alguém, por mais próximo que seja na nossa convivência. Todos nós sentimos coisas silenciosas, mas borbulhantes, lá no fundo. Temos nossos “gatilhos”, traumas, feridas. Escondemos segredos, passamos por situações cuja dor ou alegria só nós mesmos sabemos. Temos uma história. Ela acontece todo dia. Temos uma personalidade. Temos perdas. Ganhos. Medos. Raivas. Nem nós mesmos nos entendemos, muitas vezes, imagina entender os outros.

Outra coisa é que, não raro, outras pessoas nos veem e entendem mais claramente que nós mesmos. Como disse José Saramago: “É preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”. Nós todos somos ilhas em arquipélagos. Então, quem vê de fora às vezes vê melhor. Se bem que sempre por trás de suas próprias lentes. Mas aí entra a empatia: abdicar de nossas próprias lentes, lentes-espelho que nos refletem ao olharmos o mundo, o outro. Cultura, preconceitos, personalidades, histórias de vida. Não falo de ser leniente, condescendente demais, mas buscar a mútua compreensão na medida do possível.

Muita coisa no mundo seria diferente se ao menos tentássemos ter mais empatia. Procurar saber o porquê de o outro pensar ou agir de tal forma. Nem sempre é justificável, ou são “aceitáveis” os motivos. Mas compreender as razões, e fazer um esforço para nos colocar no outro, é a verdadeira empatia e é libertador.

Uso envolve evitar julgar, como ensinou Jesus Cristo. “Quem nunca pecou, atire a primeira pedra”, disse o único humano – Deus encarnado – que nunca teve pecado, aos apedrejadores da mulher adúltera. A Lei judaica mandava feri-las com pedras até a morte.

Ou: “Olhe a trave no seu olho, antes de olhar o cisco no olho do outro”, disse o Mestre na Bíblia Sagrada. Enxergamos muito mais os defeitos e problemas dos outros que os nossos, na maioria das vezes. E até atribuímos problemas a eles que, na verdade, não aceitamos em nós mesmos. “Quando Pedro fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo”, atesta a filosofia grega antiga.

Empatia. Palavra relativamente nova para muitos, alvo urgente da nossa sociedade. Que não é livre como se prega. Que está sangrando, dividida em grupos antagônicos, embora haja vozes de união sinceras e acolhedoras – raras, essas que “tudo bem, mesmo discordando de mim não vou lhe ofender”. Muitos desfilam por aí destilando o odioso “ódio do bem”: quem pensa ou age diferente recebe um “favor” ao ser repreendido e até punido. Empatia. Vale a pena tentar, ela vale nossa paz.