O voto do vereador Pedro Rousseff (PT) a favor do projeto que transfere para o governo de Minas o terreno do antigo Hospital Galba Veloso, na Gameleira, expôs divergências internas na bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara Municipal de Belo Horizonte. A decisão do parlamentar contrariou a linha adotada por seus colegas de partido, que atuaram para obstruir a votação — e o episódio acendeu alertas sobre um possível racha na legenda.
Mesmo com o tom conciliador adotado publicamente pelo vereador Pedro Patrus, que minimizou a discordância ao afirmar que “não há centralismo democrático no PT”, o episódio repercutiu além dos corredores da Câmara e reacendeu feridas mal cicatrizadas da disputa interna pelo comando do diretório municipal do partido.
De um lado, estão os parlamentares Pedro Patrus, Luiza Dulci e Bruno Pedralva, que apoiaram Robson Silva à presidência do PT-BH. Do outro, Rousseff integra o grupo que garantiu a reeleição de Guima Jardim, aliado do deputado federal Reginaldo Lopes, líder do PT mineiro e figura influente na base do prefeito Álvaro Damião (União Brasil).
Bastidores: voto como “retribuição”?
Adversários políticos associaram o voto de Rousseff a uma possível retribuição política: segundo fontes da Câmara, aliados do vereador teriam sido contemplados em nomeações feitas pela prefeitura na semana anterior à votação. A interpretação seria de que o apoio ao projeto — prioridade do governador Romeu Zema (Novo) — teria tido o aval informal do Executivo municipal. Rousseff, no entanto, nega qualquer troca de favores.
“Todo mundo sabe que sou o maior inimigo do Zema na Câmara. Mas votar contra a criação de um hospital 100% SUS é coisa de maluco”, rebateu o vereador, citando que já barrou outras propostas do governador, como a tentativa de privatizar o Hospital Amélia Lins.
Petistas acusam oposição por conveniência
Nos bastidores, aliados de Rousseff também criticaram o grupo contrário à proposta, acusando-os de fazer “oposição sem objetivo” apenas para aumentar seu poder de barganha junto à prefeitura — mesmo tendo cargos no governo Álvaro Damião. A alegação, no entanto, foi rejeitada por Bruno Pedralva, que lidera a resistência à cessão do terreno:
“Não tenho cargos no Executivo. Apoiei o prefeito em pautas importantes, mas quero liberdade para criticar o que for necessário”, afirmou Pedralva.
O projeto
A proposta aprovada em primeiro turno autoriza a desafetação (retirada do uso público) do terreno do Galba Veloso e sua transferência ao Estado, onde o governo Zema pretende instalar um complexo hospitalar 100% SUS. A unidade unificaria os atendimentos atualmente realizados pela Maternidade Odete Valadares, Hospital Infantil João Paulo II, Hospital Eduardo de Menezes e Hospital Alberto Cavalcanti.
A expectativa é de que o projeto volte à pauta em agosto, em segundo turno. O grupo contrário à proposta ainda acredita ser possível reverter o placar com pressão popular e articulação política. “A prefeitura está cedendo patrimônio sem garantias claras de contrapartidas. Isso é inaceitável”, reforçou Pedralva.
Clima de tensão no retorno do recesso
A divergência revela não apenas um embate sobre a política de saúde pública, mas também uma disputa pelo futuro da hegemonia petista em BH, envolvendo lideranças locais e estaduais. Agosto promete ser decisivo para o desfecho do projeto — e para os rumos internos do PT na capital mineira.
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