A fome ainda é uma realidade para 40% dos moradores dos aglomerados da Serra e Cabana do Pai Tomás, em Belo Horizonte, conforme estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A pesquisa “Insegurança Alimentar e Nutricional sob a Perspectiva da Interseccionalidade” revelou que parte dos moradores dessas áreas passa o dia sem se alimentar, evidenciando a desigualdade na capital.
Nilde Enilda Costa Barbosa, 56 anos, conhece bem essa realidade. Migrante de Peçanha, ela vive há décadas na Vila Cafezal, no aglomerado da Serra, e relata dificuldades para garantir o básico. Desde que o marido perdeu a visão em um acidente, ela sustenta a família com o salário de faxineira, mas depende de doações para sobreviver. “O lugar onde a gente mora não é valorizado. Já fiz entrevista de emprego e não fui contratada porque sou de vila”, conta.
O estudo da UFMG também destacou que a insegurança alimentar afeta principalmente mulheres negras e suas famílias, perpetuando o ciclo da pobreza. Beatriz Gonçalves da Costa, 23 anos, moradora do aglomerado da Serra, vive com o marido e duas filhas pequenas. Com o salário de motoboy do marido insuficiente e sem rede de apoio para cuidar das filhas, ela precisou deixar o emprego. “Às vezes, as crianças ficam sem frutas e legumes porque não temos dinheiro para o sacolão”, relata.
A subsecretária de Segurança Alimentar e Nutricional de Belo Horizonte, Darklane Rodrigues, reconhece que a pandemia agravou o quadro, mas afirma que ações como o Plano de Combate à Fome da prefeitura visam reverter a situação. Apesar dos esforços, 43 mil pessoas na capital ainda vivem em insegurança alimentar grave, conforme dados do IBGE.
Especialistas alertam que a fome no Brasil é um problema estrutural e requer políticas públicas amplas e efetivas para ser erradicada.
