Pacientes internados no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em Belo Horizonte, têm aguardado por dias nos corredores à espera de cirurgias ortopédicas. A situação foi constatada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) durante visita técnica realizada nesta segunda-feira (17/3/25).
Entre os casos, destaca-se o de dona Eva, de 79 anos, que, emocionada, relatou estar há uma semana aguardando por um procedimento cirúrgico no ombro em um corredor lotado no primeiro piso do hospital. A visita teve como objetivo avaliar o impacto do fechamento, em dezembro de 2024, do bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL) sobre o funcionamento do João XXIII.
O HMAL atuava como retaguarda do HPS, recebendo pacientes já estabilizados após cirurgias no João XXIII e que necessitavam de continuidade no tratamento ou de novas intervenções ortopédicas. Com o fechamento do bloco cirúrgico do HMAL, aproximadamente 200 procedimentos mensais foram transferidos para o João XXIII, sobrecarregando a unidade que já é referência em politraumatismos, queimaduras e tragédias no estado.
Maria Lúcia Barcelos, do conselho local de saúde, classificou a situação atual vivenciada pelos pacientes no HPS como “criminosa e degradante”. Ela ressaltou que, além de o João XXIII já ser uma unidade sobrecarregada, agora está atendendo a cirurgias eletivas que antes eram realizadas no HMAL, atrasando o atendimento de cirurgias de maior urgência.
A médica psiquiatra Paula Aparecida Gomes alertou que a espera nos corredores do HPS por cirurgias tem levado ao adoecimento psiquiátrico de muitos pacientes, demandando medicação não somente contra a dor, mas também contra ansiedade, estresse e depressão.
Pacientes como Kellen Canpolian, designer de unhas de Patos de Minas, e Fábio Henrique, vítima de um acidente de carro, relataram longas esperas por cirurgias e pressão para desocupar o HMAL, que está em processo de terceirização.
Apesar dos relatos, o diretor do Complexo de Urgência e Emergência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Fabrício Giarola, afirmou que o fechamento do bloco do HMAL não impactou negativamente o HPS. Segundo ele, servidores do HMAL foram transferidos para o HPS, o que teria aumentado a produtividade em cirurgias no João XXIII, que teria conseguido absorver as demandas. Giarola destacou que o João XXIII é uma unidade de emergência e urgência de porta aberta, com uma média de atendimento diário de 300 pacientes, e que, durante a visita, ainda havia capacidade para internar mais 70 pacientes.
No entanto, a deputada Bella Gonçalves, presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALMG, avaliou que a visita técnica revelou um atendimento prestado de forma caótica e sem dignidade no João XXIII. Ela destacou que foram observadas demandas por cirurgias de urgência com esperas de 8 a 15 dias, com pessoas correndo risco de infecção, enquanto a direção afirmava que não havia impactos. A situação será discutida em audiência pública da comissão nesta quarta-feira (19/3), na ALMG.
A deputada Beatriz Cerqueira (PT) também considerou a situação desrespeitosa para pacientes e servidores, alertando que a proposta do governo pode levar à privatização de serviços de saúde, por meio da criação do Serviço Social Autônomo de Gestão Hospitalar (SSA-Gehosp), prevista em projeto do Executivo que tramita na ALMG. O deputado Lucas Lasmar (Rede) acusou o governo de falta de planejamento na destinação pretendida para o HMAL e contestou a posição da Fhemig, afirmando que não há como dizer que o fechamento do bloco do Amélia Lins não teve impacto no João XXIII, diante dos pacientes nos corredores.
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