A crise financeira que ameaça o funcionamento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) em Minas Gerais ganhou contornos ainda mais graves nesta semana, após o Ministério da Saúde oficializar o corte de recursos destinados a Ipatinga, no Vale do Aço. O cenário expõe a fragilidade de um serviço essencial para salvar vidas em situações de emergência, que agora corre risco de ser interrompido em até 800 cidades mineiras, caso não haja repasse emergencial de verbas federais.
Em Ipatinga, a Prefeitura confirmou que a Central de Regulação do Samu já estava desativada desde outubro de 2023, mas foi surpreendida pela publicação da Portaria nº 7.385, do Ministério da Saúde, no dia 1º de julho de 2025, que oficializou o encerramento das atividades da Central e das ambulâncias vinculadas à unidade.
Com a decisão, o governo federal vai cortar R$ 1,87 milhão ao ano dos repasses para a cidade, antes destinados a custear atendimentos de média e alta complexidade por meio do Samu. Além disso, o município terá que devolver R$ 155,8 mil que já havia recebido para manter o serviço entre fevereiro e julho deste ano.
Apesar do corte, o atendimento de urgência segue operando em Ipatinga via Consurge, consórcio intermunicipal que atende a cidade e outros municípios da região.
Crise generalizada no estado
Mas Ipatinga não é caso isolado. Conforme dez consórcios intermunicipais de saúde denunciaram nesta semana, cerca de 800 cidades mineiras correm risco de ficar sem Samu já na próxima semana. A paralisação afetaria 94% do território mineiro, com impacto direto em atendimentos pré-hospitalares, acidentes graves, infartos, AVCs e partos de emergência.
O déficit projetado para 2025 é de R$ 56,8 milhões, segundo documento enviado pelos consórcios ao Ministério da Saúde. Os gestores denunciam que, atualmente, os valores federais repassados variam de 0% a no máximo 40% do necessário, muito abaixo dos 75% que o governo federal financiava até alguns anos atrás.
“Estamos no limite. Há casos de colegas que ficam dias inteiros em escalas extras, porque faltam equipes e recursos”, afirmou um socorrista ouvido pela reportagem, sob anonimato.
Em algumas regiões, a situação é ainda mais crítica. O consórcio do Noroeste de Minas relatou não ter recebido nenhum recurso federal em 2024, obrigando os municípios consorciados a arcar com todos os custos — cenário insustentável para cidades de pequeno porte com orçamento limitado.
Ministério promete solução
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “tem feito esforços para recompor os repasses financeiros aos consórcios de saúde em todo o país” e que busca soluções junto ao Congresso Nacional. Entretanto, não detalhou valores nem prazos para regularização dos pagamentos.
A possível paralisação preocupa também o governo estadual, especialmente porque Minas Gerais é o estado com maior número de municípios do país e grande extensão rural. Caso o Samu pare, pacientes em cidades pequenas poderão ter que aguardar horas por socorro ou transferência a hospitais maiores, elevando o risco de mortes em casos graves.
Enquanto isso, profissionais seguem sobrecarregados, veículos estão sucateados e faltam recursos até para a compra de insumos básicos, expondo a rede de urgência e emergência a um iminente colapso.
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